segunda-feira, 14 de junho de 2010

Piano duplo

Eu pensei em falar sobre como foi meu dia, mas isso já está se tornando monótono demais. Então vim para falar de algo que eu realmente nunca tinha visto e que, pelo visto é relativamente inédito no país: o piano duplo.
Uma inteligente simplificação, que permite a dois pianistas assentarem-se em frente um do outro, a uma distância de 2m a 3m, dispondo cada um do seu teclado, das suas cordas e dos seus martelos, e partilhando somente o tampo em comum, que, por uma questão de acústica, é o mesmo para os dois maquinários.
É bastante comum se encontrar músicas compostas para dois pianos e, seja pelo espaço que ocupam, seja pelo problema de sempre cada tampo das caldas ficarem viradas para um lado diferente, o som sempre era prejudicado. Foi daí que surgiu a idéia de Gustavo Lyon, então diretor da Pleyel, no século XIX, unir dois pianos a um tampo só.


Uma peculiaridade que surgiu com o piano duplo: tocando-se uma nota ou acorde num dos teclados, as vibrações repercutem-se nas cordas do segundo, podendo o pianista deste abafar o som, através dos pedais.
Apesar da praticidade que trouxe aos concertos, o piano duplo não se popularizou, em razão do tamanho e do preço. Pelo fato de ter dois maquinários de pianos de calda, o preço duplica. Indagando minha professora sobre o incomum instrumento, ela comentou que, nos seus tempos de conservatório, eles tinham um e costumavam tocar. Não havia muitas diferenças em relação a dois pianos separados. Mas, na partitura, exigia o dobro de atenção do que se fosse uma música a quatro mãos (típica para duas pessoas tocarem num piano só), pois os dois pianos nunca tocavam a mesma melodia, sendo, geralmente, um em seguida do outro, como se fosse uma conversa de dois namorados, numa mesa de jantar.
No Brasil, somente neste ano chegou à capital. Ele precisou de três anos para ser construído. Na oficina que mantém o Museu Casa do Piano - uma coleção de 52 pianos -, o afinador Rogério Resende planejou e executou o sonho de construir dois pianos em um único corpo. A caixa de 3,23m de comprimento abriga dois pianos de cauda de marca Essenfelder, recuperados na oficina do afinador. Resende investiu na experiência depois de deitar os olhos sobre a foto de instrumento semelhante idealizado por Lyon. Não diferente do resto do mundo, o tamanho e custo excessivo inviabilizaram o sucesso do piano duplo, que acabou restrito a poucos exemplares nas terras canarinhas.
No dia 19 de março, foi realizado, em Brasília, um recital de estreia do instrumento. Subiram ao palco as pianistas Neusa França e Maria Emília Osório, no auditório da Casa Thomas Jefferson.
Elas prepararam um repertóriovariado com música popular e erudita. "Quisemos agradar gregos e troianos", avisa Maria Emília. Músicas escritas para dois pianos é algo bastante comum na história do instrumento. Transcrever repertório sinfônico para dois teclados era uma forma de possibilitar a execução das peças com frequência quando as orquestras não estavam disponíveis. "O piano é o único instrumento que pode reproduzir a orquestra", avisa Maria Emília. "Todas as sinfonias dos grandes compositores foram transcritas para dois pianos porque se dispunha de poucas orquestras e, para que sua música passasse à posteridade, os músicos não podiam depender das poucas orquestras", explica o pianista Dib Franciss, que ajudou a dupla a montar o repertório.

A primeira parte do recital trouxe Jesus alegria dos homens, de Bach, com arranjo do próprio compositor e Fantasia em dó menor, de Mozart, cuja transcrição para o segundo piano leva a assinatura do norueguês Edward Grieg. A partitura original de Mozart é preservada e tocada por um dos pianos, enquanto o outro executa a criação de Grieg com uma leitura mais harmônica que dá novas sonoridades para a peça sem comprometer a espinha do classicismo do compositor.
De Mozart, a dupla também toca o samba alla turca [também conhecido como Marcha Turca], criação do norte-americano J. P. Buttall para um dos maiores sucessos do austríaco. Já a Dança Slava tem as partituras dos dois pianos escritas pelo tcheco Antonín Dvořák. Gershwin, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Claudio Santoro e Leucona também estiveram no programa com arranjos originais. É em Prelúdio e Valsa, de Chopin, que entra a mão de Neusa França como compositora. Para as duas peças, enquanto Maria Emília executa a partitura original em um teclado, Neusa improvisa no outro. "Vou fazendo o que me vem à cabeça", diz a pianista, que assina também a valsa Primeiro beijo e o samba Exaltação a Brasília, criação mais recente feita em homenagem aos 50 anos da capital.
O recital foi gravado e transmitido novamente ontem, pela TV Senado. Foi realmente muito agradável de ouvir. Mas, para deixá-los na curiosidade, vou postar outro vídeo em um piano duplo, que considerei bastante expressivo e interessante.



Fontes: Correio Braziliense
Blog da Guilhermina Suggia

2 comentários:

  1. Ola, muito bom o assunto =) ..interessante e o som tambem nao deixa nada a desejar, desconhecia esse tipo de instrumento.

    bjo.

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  2. Em um Video Music Awards da MTV, o Guns'n'Roses fez uma apresentação junto com Elton John tocando num piano assim.
    Texto meio técnico, mas gostei!

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