domingo, 31 de outubro de 2010

Apuros em Floripa

Quinta-feira peguei um ônibus e fui para Florianópolis, com o foco em assistir ao quinto CCAD (Congresso dos Centros Acadêmicos de Direito de Santa Catarina). Três dias para se virar sozinha, num apartamento só para mim e com o único cuidado de não gastar muito nem errar os ônibus.
Tudo tranquilo, pelo menos até chegar no meio do caminho e pensar em olhar quanto tempo faltava para chegar. Eis que surge a surpresa: onde foi parar meu celular?
Revirei minha pasta, meus bolsos e nada. Céus, será que eu o perdi? será que deixei na mala, embaixo do ônibus? Meu estômago ia se embrulhando de desespero, à medida que aquele ônibus avançava na estrada. Paciência, pensei. Até porque ter uma crise nervosa e começar a vomitar no meio da viagem não ia ajudar em nada.
Esperei, ainda que acometida pela impaciência e pelo tédio da viagem, para verificar na mala quando chegasse à rodoviária da Ilha. Nada de novo.
Peguei outro ônibus, para ir para o apartamento. Sentei do lado de uma senhora morena, muito simpática, por sinal. Desceríamos no mesmo ponto, então tivemos tempo de conversar um pouco.
Descobri que ela foi uma das primeiras professoras do curso de Psicologia da UFSC. Havia feito seu doutorado em Nicarágua e seu mestrado na PUCRS. Quando comentei da violência que infelizmente atinge Porto Alegre hoje, ela comentou de um episódio de quando ela estudou lá, antes de conhecer seu atual marido. Foi mais ou menos assim:
Estava ela descendo do ônibus, quando um sujeito arrancou a bolsa dela e saiu correndo. Ela, que na época tinha o mesmo corpo magro que eu e que sempre gostou de correr. Foi atrás dele e conseguiu o alcançar. Quando ele foi sentar num canto e ver o que tinha dentro da bolsa, ela puxou-a e ainda teve tempo de mandá-lo ir trabalhar, ao invés de roubar de gente pobre e da mesma cor que ele.
Ao fim do trajeto de nosso ônibus, ela perguntou meu nome, para que lembrasse de que me conheceu quando visse meu nome brilhar. Eu ri e agradeci o incentivo gentil dela e também perguntei o nome daquela adorável e recém-feita amiga, que até a UFSC já hávia a homenageado, em uma placa cromada, bem na entrada do prédio de psicologia do campus da Ilha.
Aquela conversa me fez esquecer, ainda que por alguns minutos, o pepino que teria que resolver assim que chegasse ao apartamento. Felizmente, lembrei da imobiliária que cuida dos negócios da minha tia lá. Fui até o lugar e perguntei se poderiam fazer um favor e ligar para avisar minha mãe que eu estava viva e em Floripa.
Foi uma conversa extremamente breve com minha mãe. Ela falou que viu meu celular e o enviou em seguida, por sedex para a portaria. Deveria estar chegando às dez horas do dia seguinte. Santa mãezinha que tenho!
O jeito era ir pra casa, avisar os porteiros e se virar sem comunicação, sem rádio e o pior: sem despertador.
Achei um relógio antigo, de dar corda, lá guardado. Estava com alguns ponteiros soltos e alguns botões emperrados. Consegui reviver seus ponteiros, mas foi uma ideia falida tentar desemperrar seu botão de corda para o despertador. É, melhor esquecer o nono e partir para outra ideia.
Consegui programar a velha televisão para ligar no dia seguinte, no horário que eu queria. Fiz o teste e funcionou, agora era só cuidar para acordar com o barulho.
Sempre tive o sono leve, mas mesmo assim dormi mal, na tensão de não perder o horário. Mas acordei na hora prevista, embora não sem os ombros me matando.
Não bastasse esquecer o celular em casa, também esqueci de anotar o endereço do Centro de Eventos. Como os estudantes tiraram de dentro da UFSC, ia depender de ônibus também para isso. Fui até um centro de informações da universidade, anotei qual ônibus pegar e fui ao bendito congresso.
Queimando horário, a minha sorte foi que os estudantes organizadores estavam mais atrasados que eu. Deu tempo de encontrar dois amigos, que também foram por conta própria e fazer credenciamento com calma.
Após as palestras da manhã, fomos em busca de um restaurante que não cobrasse R$20,00 por bifê livre, como estava cobrando o estabelecimento que funcionava dentro do centro de eventos.
Uma coisa que me encomoda quando vou sair da minha cidade é encontrar um conterrâneo a cada esquina do meu destino. Em Floripa não foi diferente, mas não me irritei muito com isso.
Achamos um restaurante que era uma relojoaria, no andar de baixo, e que tinha uma escada de madeira velha e que rangia a cada passo que dávamos. Ficava bem no centro e, apesar de pequeno e com uma estrutura que dava um pouco de medo, comemos bem, num bifê a quilo, o qual paguei R$3,10 em meu prato de arroz e carne.
Voltamos, uma hora depois, ao congresso a pé. Estava um sol castigante e agradeci, em pensamento, a mim mesma por ter ido de all star.
No fim do primeiro dia, já sentia meu traseiro começar a tomar a forma da cadeira a qual estava sentada, mas valeu a pena, por cada palestra que assisti. Meus amigos foram embora um pouco mais cedo que eu, mas também não quis ficar até o fim das palestras. O calor tinha me feito mal e eu já começava a cochilar na cadeira, sonhando com um bom banho de água gelada. Só esperei o último carimbo do dia para o crachá e fui para o terminal.
Voltei para casa num ônibus pinga-pinga, que deve ter parado em todos os pontos da Avenida Beira Mar Norte até a Cidade Universitária, levando quase o dobro do tempo normal, em função do trânsito das 20h de uma sexta-feira, véspera de feriado.
Chegando ao condomínio, peguei o celular e fui correndo para casa. Depois de ter ligado para meus pais, para falar com mais calma, pude tomar minha já sonhada ducha e comer algo. Com o estômago satisfeito com a primeira refeição decente do dia, caí na cama, não sem antes matar a saudade de um pouco de sociabilização, aproveitando a internete quase que de graça no celular.
O tempo que levei no dia anterior para acordar, tomar café, ir na ufsc me informar e pegar o ônibus, eu levei para acordar no segundo dia e tomar café. Tudo bem que tinha dormido ainda pior do que na noite anterior e a insônia já começava a me fazer companhia, mas, malgrado a adrenalina ter me faltado no segundo dia, consegui chegar relativamente pontual ao congresso, apesar de ter pego o ônibus errado e ter passeado por toda a cidade nele.
Para variar, o congresso também estava atrasado, assim como meus dois colegas, que perderam a hora de dormir e também a de acordar.
Na hora do almoço, como um um dos meus amigos havia se tatuado ontem, preferia passar fome a ter que achar um lugar barato para comer, no calor e no movimento do mercado popular. Acabamos comendo na lanchonete do centro de eventos, pagando mais caro, infelizmente.
Voltando às palestras, parece que um dos palestrantes da parte da manhã foi almoçar junto com o primeiro palestrante da tarde e, na empolgação de estar na ilha da magia e no sabor do vinho, acabaram exagerando na dose. Fim das contas: um palestrante com a lingua enrolada, pulando do palco ao chão, falando de sua vida e tentando chegar no assunto, quando já faltava 5 minutos para esgotar o seu tempo. Bom, ainda não sei o que mudou com a nova lei do divórcio, mas demos boas risadas e ouvimos a importância do amor, além de descobrirmos que o sujeito já tinha encontrado outros palestrantes do dia, num show do Guns’n’Roses, e que ele cantava muito bem a música Now or Never, na versão do Elvis Presley.
 
O segundo dia estava quase acabando. Eu não aguentava mais aquelas músicas do Vangelis, entre uma palestra e outra. Saí às 17h, depois de convencer os acadêmicos do DCE que levaria cerca de mais uma hora, entre sair dali e levar minha bagagem para a rodoviária. Peguei meu certificado, depois de algumas furtividades necessárias, para que quebrassem o protocolo de só entregar depois das 20h. Peguei outro ônibus e fui para casa.
Mas, como não podia faltar a essa atrapalhada viagem, desci no ponto errado. Como dizia o Duca Leindecker, “parando, às vezes se aprende o quanto se pode andar”. E como andei. Vinte minutos, passando por cinco benditas paradas e sequer um mísero ônibus apareceu. O all star não me abandonou nessa caminhada, embora meus pés começassem a reclamar.
Atrasei mais do que devia em casa, acabei perdendo outro ônibus e, como já faltava meia hora para a hora do meu ônibus sair, tive que pegar um táxi. E que táxi dolorido para meu bolso! enquanto eu pagava R$2,95 no ônibus, tive que desembolsar R$15,20 na corrida até a Rodoviária. Floripa é uma cidade linda para se passear, mas terrivelmente cara para se morar.

domingo, 10 de outubro de 2010

Helloween antecipado

Ontem, fizemos um churrasco para comemorar o aniversário de um amigo nosso, no barzinho Pixa Fora, no Morro dos Conventos. O lugar é muito bacana. Cheio de discos de bandas de heavy metal pendurados nas paredes, com luzes fracas e alguns sofás e bancos para todos poderem se sentar. É uma mistura de garagem para ensaios com boteco. Pena ter ido poucos dos que foram convidados, mas foi legal. Embora eu ache que o repertório precise ser um pouco menos depressivo que Creed e Reação em Cadeia, estava um clima muito legal.
Começaram lá por umas sete da noite, mas, como eu e a Jaque trabalhávamos, só chegamos às dez horas. O Andrei tinha um compromisso, então só chegou mais tarde. Mas o Pinxa não foi o melhor da noite.
Soubemos de uma festa de aniversário de duas meninas, que decidiram chamar três bandas para tocar no parque do Lago Dourado, cobrar cinco reais à entrada e pedir que todos fossem fantasiados e levassem as bebidas. Como o Andrei não tinha dado sinal de vida o dia todo, fomos as duas na loja de fantasias e compramos óculos e chapéus, para complementar com o que tivéssemos em casa.
Ficamos por volta de uma hora no aniversário e, como sabíamos que começaria cedo e a turma não quis ir junto, voltamos à cidade para que o Andrei trocasse de roupa e pegássemos mais algumas coisas na casa da Jaque. Já era quase uma da manhã quando chegamos no nosso destino principal.
Quase passei direto na hora de encontrar a entrada. Naquele silêncio e naquela escuridão, estava me sentindo dentro de um filme de terror, não fosse pelas músicas animadas do David Bowie, no som do carro.
Pagamos, entramos, sem bem saber aonde aquela estrada ia dar (o zelador falou apenas para seguir a luz daquele poste distante). Quando a estrada ia se bifurcar, encontramos a dita festa. No meio dos eucaliptos e bem em frente à lagoa, ficava um pequeno abrigo, perfeito para fazer churrascos. Lá já estavam umas trinta pessoas e a primeira banda estava terminando de tocar. Como ela era a Quase Dama e Vagabundos, foi muito boa.
Não sei se foi o fato de nós três chegamos todos de preto e eu estar muito chamativa pelos óculos vermelhos, mas todo mundo ficou nos olhando quando chegamos. Como eu não estava enxergando muito bem com aquelas lentes, não me interessei muito por isso e procurei curtir o bom e velho rock'n'roll.
Havia umas fantasias muito criativas, como a do Cavera, que foi de índio norte-americano, com sua longa trança loira e sua veste branca de algodão, cheio de trabalhados. A do Pedrão também (ele foi de terno de risca de giz e colocou uma cartola e chegou fumando um charuto, parecendo o legítimo gagster). Tinha um cara vestido e maquiado como Besourosuco (do filme BeetleJuice), que ficou incrivelmente parecido e original.
Alguns vampirinhos, uma freira e uma diabinha, como não podiam faltar. Também o guitarrista da segunda banda foi engraçado. Não sei ele fez propositalmente ou quis tentar parecer emo, mas aquela calça vermelha e aquela camiseta verde-grama gola V o transformaram no perfeito Salsicha (do desenho animado Scooby-Doo).
Para quem decidiu ir de última hora, a jaqueta de couro e os óculos escuros caíram bem aos Motoqueiros Eliseu e Andrei. Uma diferença curiosa entre os dois estava nos óculos: um era a reencarnação de Elvis Presley e o outro, era um motoqueiro que esqueceu de trazer sua Harley-Davidson.
Como não queria perder o clima de Bruxa de Blair hippie, fique a noite toda com os óculos, então não reparei muito nas fantasias dos outros. Quem me visse dançando, garantiria que eu estava muito chapada. Apelidos não faltaram, como Rita Lee e Ozzy Osbourne. Bacana era jogar feitiços em quem me amolasse.
Em seguida, veio a Alcolroll. Não sei se foi pelo personagem que estava ultrajando, mas o vocalista estava muito chato [e bêbado], parando para recitar poemas, dizendo que estava muito EMOcionado, enfim. Ainda me pergunto porque não afoguei ele no lago ao lado.
A primeira parte do repertório deles não me agradou muito, então, como a Jaque estava ocupada com um escocês com bandeira própria e cara pintada (que eu achei que fosse o Homem das Cavernas ou o Capitão Caverna, num primeiro momento), fomos eu e o Andrei para o carro, voltar a ouvir David Bowie. Por mais adolescente que parecesse, foi divertido.
Ficamos por lá por estar frio e eu não ter trazido jaqueta. O Andrei estava aquecido com a jaqueta de couro e a Jaque eu nem preciso comentar. Como começou a chover e já eram três da madrugada, fui chamar a Jaque para irmos embora. Conhecendo aquela Lagoa da Serra como eu bem conheço, sabia o estrago que aquela estrada de chão lamassenta poderia causar. Todos a bordo, voltamos para o centro, sem ouvir a terceira banda.
Passamos num carrinho e cachorro quente e comemos no carro. Comida pesada, mas o remédio para má digestão resolveu meu sono depois. Todos entregues. Guardei o carro na garagem e fui para casa. Essa foi a primeira noite que peguei o carro para sair, então já dá para imaginar o coração disparado e o medo de cometer falhas. Mas deu tudo certo. Tão certo que não consegui dormir depois, ainda no clima de preocupação. Mas tudo bem, apesar de não ter acontecido muitas coisas, foi uma noite muito boa.