terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Amor Assassino

Era meia-noite. Ela poderia ter ido embora, mas preferiu se deixar ficar no sofá. O efeito dos analgésicos passara e ela sentia os hematomas por todo o corpo começarem a latejar. Mas tudo o que ela queria agora era esquecer e fechar os olhos, para nunca mais acordar.
Estava em casa, mas se sentia dentro de uma prisão. Seu casamento parecia o sonho de toda mulher. Mas tudo mudou depois do terceiro ano, após abortar o primeiro filho deles, em um acidente de carro.
Apesar de ter sido seu marido quem dirigia, ele nunca a perdoou. Começou a beber, perdeu o emprego e todas as noites chegava tarde em casa. As brigas eram constantes e não demorou muito até que ele começasse a ser mais agressivo com ela.
Ela entrou em depressão e passava dias deitada, no escuro do quarto. Não demorou muito para que se descuidasse dos afazeres de casa. Outro motivo para mais brigas e mais violência.
Sua família falava da Lei Maria da Penha para ela. Diziam que bastava procurar um advogado e relatar o que estava acontecendo. Isso a animou, mas toda a coragem foi abaixo na briga seguinte. Na ameaça de divórcio, ele se ajoelhou diante dela, como quando a pediu em casamento, e pediu desculpas, dizendo que a amava e que iria mudar. Mas isso nunca aconteceu.
Agora, assim estava ela: deitada, magoada por dentro e por fora, observando todos esses anos que passaram juntos. Resolvereu fugir e se livrar de tanto peso.
Juntou algumas mudas de roupas numa sacola e partiu. Eram duas da madrugada, duvidava que ele voltasse cedo.
_Aonde você vai? - surprendeu-a o marido, visivelmente alterado pelo excesso de álcool.
_Para bem longe de você!
_E quem disse que eu deixei?
Neste instante, ela a agarrou pelos braços e a arrastou até a garagem. Não foi com os punhos, mas com uma faca grande, que se encontrava no tanque de lavar roupas. Ninguém ouviu seus gritos por socorro, por morarem isolados, em uma área rural. Depois de vinte facadas em vários pontos vitais do corpo, ela finalmente pode fechar os olhos, esquecer e não mais acordar.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Show do Metallica

Estava a passear hoje pelos canais da tv, quando me deparo com o programa Lab especial mostrando só vídeos do Metallica. Não vou dizer que me exaltei com aquilo, porque o máximo que conheço deles é o album preto e alguma coisa do St. Anger, então, resolvi dar uma olhada.
Fizeram uma retrospectiva dos clássicos, chegando aos mais recentes. Anunciaram também que hoje passariam o show deles ao vivo, na Cidade do México. Quem estava indeciso se vai ou não no show deles em 2010 provalmente agora está mais do que decidido.
Tocaram as baladas, como the day that never comes e whiskey in the jar, mas tocaram clássicos (sem apelar para a já manjada nothing else matters).
É lógico que ninguém podia esperar deles a mesma violência de tocar e balançar suas crespas cabeleiras como faziam nos primeiros álbuns (até porque o Lars e o Hetfield mal conseguiriam balançar seus cafanhaques), mas gostei da qualidade ao vivo. Os caras têm uma senhora presença de palco e não há como ficar parada, de braços cruzados e olhando, como se estivesse num festival brasileiro. Mas o melhor eles deixaram por último.
Disseram, em inglês, que tinham gostado muito dos três dias no México e que os fãs foram incríveis. Hetfield pediu, então, que todos agora cantassem como nunca cantaram na vida deles, para ficar marcado na história a marca da Família Metallica. Disse que, para cantar, precisariam de três palavras: SEEK AND DESTROY
E nesta nem eu consegui ficar parada. Mesmo estando deitada no sofá, em frente à tv, precisei cantar junto (me segurando pra não começar a pular junto, para que meus pais não me chamassem de louca e nem os vizinhos começassem a buzinar na campainha).
E assim foi: um estádio de futebol com capacidade semelhante ao Pacaembu (se não for maior) lotado, com todo mundo pulando quase que sincronizadamente, cantando em uníssono e rodinhas punks para todos os lados e (por mais estranho que soe), incrivelmente organizadas em redemoinhos fechados.
E fica só aquela lembrança:
Hetfield: SEACHINNNNG
Todos (inclusive eu): SEEK AND DESTROOOOOOY!

O chato foi a mtv cortar grande parte com propagandas e o show acabar em uma hora apenas. Mas tudo bem.
O show acabou e ficou aquele gostinho de "preciso viver isso", mas agora que a euforia acabou, fico pensando se realmente vale a pena pagar 200 reais, enfrentar quase 4 horas de viajem de van para assistir a apenas uma hora de show numa cidade que, apesar de eu adorar passear, está cada dia mais violenta, como é Porto Alegre.

O jeito é guardar o dinheiro e esperar o próximo e desejar bom show aos que vão. Se bem que esse dinheiro já estou preparando o trajeto para outro show muito mais foda. Mas deixemos isso para outra conversa :D

domingo, 13 de dezembro de 2009

Trouble man, blues band

Assisti a um show da banda de blues Trouble Man hoje, no novo bar central.
Recomendo para quem procura blues ou, simplesmente, música de qualidade.
Não conhecia nenhuma música que eles tocaram (exceto a bis, que foi Roadhouse Blues improvisada, do Doors), mas gostei de ficar ouvindo aquele inglês limpo e bem pronunciado do Maurício Pereira e todo o conjunto bem tocado (embora quase não desse de ouvir o teclado).
O ambiente novo ficou muito legal e a acústica agradou muito aos meus ouvidos (e provalmente aos dos vizinhos também). Espero que o dono continue trazendo bandas de qualidade e não perca as vertentes do rock.
Findo o show um pouco depois da uma da manhã. Cedo demais para ir dormir. Demos uma volta, eu e o Diogo (), para tirar a moleza das pernas que o blues nos deixou e mais tarde voltamos. Terminar a noite vendo desenho animado num bar pode parecer deprimente, mas findar a noite com teus melhores amigos, rindo a beça e sem vontade de que tudo isso termine é maravilhoso.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Vida de frila

Abriu os olhos. Oito e cinco. Corra, está atrasada! Cinco minutos. Roupa. Café. Escova e pasta de dentes. Corra, está atrasada!
Reunião às oito e quinze. Almoço com namorado. Precisa buscar o vestido na lavanderia antes de voltar para o trabalho. Não esqueça de ligar para mãe. Ela sempre se queixa que você nunca liga. O que preciso falar na reunião mesmo? Concentre-se. Não deixe que os outros compromissos te atrapalhem agora. Isso equivaleria à perca da vaga para titular, assim como o aumento e talvez até o trabalhe menos. Não esqueça de marcar o retorno do médico. “É pequeno, mas pode se agravar”, ele disse. Há quanto tempo não visita seus pais? Precisa pagar o aluguel hoje. Será que já debitou aquela prestação? Precisa conferir assim que tiver tempo. Fim da reunião. Será que gostaram? O editor pareceu interessado e disse que me dará um retorno em breve. Quando será esse breve?
Dez horas. Vou ver o estrato da minha conta e entrevistar aquela diretora do novo ballet francês que está se apresentando com artistas brasileiros essa semana. Acho que dá tempo para passar no centro e comprar um presente para ele. É seu aniversário hoje e quero que seja especial. Tudo certo e debitado como previsto. Hora da entrevista.
Trânsito. Ótimo, tudo o que preciso agora. Preciso arranjar um mototáxi e parar de gastar gasolina e tempo.
Dez minutos de atraso. Chego e os artistas estão ainda se alongando. Desculpas. Cara feia. Nada que alguns sorrisos não resolvam.
Entrevista pronta. Ligo para a editora. Estará no e-mail dela no fim desta noite, assim como meu pagamento, depositado até as quinze do dia seguinte.
São quinze para o meio-dia. O que posso dar para ele? Melhor ligar para a cunhada... o último livro da Clarice Lispector? Por quê não pensei nisso!
Livraria. Sim, é para presente. Crédito, em duas vezes, por favor. Obrigada.
Correria em todas as ruas. A hora do almoço é o exato reflexo de combatentes de guerra: luta-se para pegar um lugar no banco do ônibus, para chegar primeiro e se sentar e logo almoçar, sem ter que esperar em filas intermináveis. Mas tudo aos poucos se acalma quando um dos dois lados se rende ao outro. A fome e o churrasco suculento.
Ah, a hora de comer! Ou seria a hora de parar e lembrar de respirar sem pensar no próximo compromisso? Não importa. Acho que ele gostou, embora não confie muito naquele “gostei” pensativo. Conversas de praxe. Hora de ir. Beijos. Cinema na sexta? A Ana convidou para irmos comer pizza no sábado. Tenho três matérias para segunda, mas estarei lá. Por que comida se restaurante sempre dá sono?
O ônibus vai atrasar e o namorado trabalha ali perto. O jeito é pegar um táxi. Estende a mão. Nada. Continue tentando. É normal estarem quase todos cheios àquela hora. O que preciso... Ahh!
O impacto de um motoboy que foi desviar de uma fila de carros e perdeu o controle. Atingiu-a em cheio. Tudo escureceu. Ouviu sirenes distantes. Não importa. Onde está sua matéria? Precisa terminar. Precisa se levantar, mas não consegue. Não sente nada, mas tudo escureceu e sente que precisa ali ficar, porque a única coisa que ela precisa agora é conseguir respirar...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fim de semestre é a época perfeita para professores darem o troco em acadêmicos desagradáveis de suas cadeiras. Mas, felizmente, acabou (mesmo que temporariamente).
Mais tarde eu posto outro conto.