segunda-feira, 29 de março de 2010

Dia típico

Domingo outra vez. Passara o dia todo em casa, com a cama por fazer, as roupas pelo chão e o seu fiel e surrado pijama. Organizar o quarto, trocar de roupa, ser normal, para quê? É domingo e já fizera esforço o bastantate ao se levantar para preparar algo para almoçar.
Toda a atividade fisica dominical se resume em um fim: ligar o computador e colocar em dia seus afazeres. Afinal, ficar em casa sem fazer nada, em pleno domingo é deprimente.
Eis que o imprevisto acontece: o computador não liga. Nem com mexidas aqui e ali nas entradas, nem com reza brava. Quando um dos instrumentos mais úteis e necessários do século XXI te deixam na mão é que bate o desespero só de pensar se se perde algum arquivo importante. E o pior de tudo é que esse monte de lata esmaltada em cinza não tem nem mãe para se chingar.
Fazer o quê, o jeito é procurar ocupar a mente, até porque a programação da televisão nesse dia não é nada interessante. Olha para a pilha de roupas e a cama bagunçada no quarto, olha para o livro que recém pegou na biblioteca e que estava com muita vontade de ler. Na dúvida, simplifique: jogou as bagunças para o chão e se aninhou na cama ainda quente.
Aconhegada na cama, com a luz do dia na medida certa, tudo perfeito, até as três da tarde. Passa um carro com o som esganiçado daquelas cantoras de ‘dance brasileiro’ (para não falar música de toque polifônico de celular, em respeito aos que gostam). Na beira do incêndio da história do gato preto de Allan Poe, mesmo já tendo lido pelo menos três vezes essa história, mas querendo de novo ver o horror místico daquele gato gravado na única parede que sobrou da casa. Criar esse clima de suspense com o som do ‘deja vu’ tremendo a janela do quarto não é uma experiência muito satisfatória.
Então ela vai dar uma olhada nas tartarigas. Havia esquecido de deixar as plantas longe do aquário e a mais Touchet comeu um pedaço de sua planta carnívora. Tudo bem que tartarugas não são animais muito bonitos, mas essa não ficou com uma cara muito boa. Melhor cuidar dela com mais afinco. Melhor deixar o livro pra lá. Mas quem mais saiu perdendo foi a planta, já que também não estava bem, mas por falta de insetos para comer mesmo.

terça-feira, 16 de março de 2010

Breves reflexões

Nesse Domingo, procurei um lugar diferente para ficar. Como tinha muitas coisas para estudar, peguei uma cadeira e uma mesa portáteis e saí por aí sem rumo… certo, não foi assim, mas saí do perímetro urbano. Precisava fugir daqueles carros de som e motores de motos, que tantos cidadãos ainda pensam ser requisito de status por essas redondezas.
Fui para um sítio entre a praia e a cidade. Tirando um ou outro Jet Ski ou cachorro tepeêmico, os únicos ruídos que encontrei foram os de frutas e folhas caindo e, claro, a harmonia de tantos cantos de passaros cantados simultaneamente.
Consegui estudar, resistindo à tentação de ficar apaenas apreciando todo aquele ambiente em seu clímax natural. E, vivendo momentos como este, fico refletindo o que leva tantas pessoas a temer o silêncio e a adorar a superficialidade das aparências.
Não estou aqui para criticar ninguém. Faz parte do caminho de todos passar por atalhos perigosos e placas enganosas. Cabe a cada um, outrossim, escolher por onde ir (desde que não esqueça a premissa básica de que a sua liberdade termina quando começa a dos outros). Mas às vezes gostaria que as pessoas seguissem as placas em silêncio, porque esse caminho só elas podem traçar e não interessa a mais ninguém os louros ou as perdas que nele, certamente, irão encontrar.

terça-feira, 2 de março de 2010

Tuitização

Estava lendo o blog do Diogo hoje e o post dele me deu a ideia de escrever este post.
Antigamente, para ser aceito num grupo social como “normal”, precisava-se ter computador em casa e estar conectado ao mIRC. Para adolescentes, isso era totalmente aceitável e não importava se não se tinha nenhum amigo na vida ‘real’, pois todos os seus problemas pessoais se resolviam choramingando para algum usuário que se conhecesse há algum tempo.
O tempo passou e o MSN Messenger chegou. Quanta praticidade, ele trouxe! Agora, além de conhecer pessoas novas no IRC, podia-se adicionar o e-mail delas e conversar somente com os contatos da minha lista; evitando, assim, estupradores, pedófilos, ‘e-aí-gata-quer-tc’, entre outros que sempre apareciam pelos canais do servidor. Adeus mirc e olá msn!
Mas a vida de msn foi ficando chata, pois os contatos eram sempre os mesmos e, como na vida real, mesmas pessoas e assuntos lacônicos foram cansando e foi aí que surgiu o Orkut: uma rede em que não se precisava baixar qualquer programa, repleta de gente diferente e só entrava quem fosse convidado (coisa que não durou muito tempo, mas isso não vêm ao caso).
Sites como o orkut, myspace e facebook surgiram como uma revolução nas redes de relacionamento mundiais. Simples, práticos e leves, qualquer um que se cadastrasse poderia os acessar.
Mas, como todos os programas anteriores e tantos outros que simultaneamente foram surgindo, as pessoas mais ‘cutes’ (aqueles que vivem procurando coisas diferentes, para parecer diferente dos outros) foram se cansando e começaram a procurar outros sites que os norte-americanos gostassem, tencionando encontrar pessoas diferentes do seu já ‘manjado’ meio e também fugir dos estrupadores, pedófilos e ‘e-aí-gata-quer-tc’. Daí, o facebook surgiu: o orkut que os americanos - fugidos da invasão canarinha e idiana - adotaram como rede predileta de relacionamento.
Paralelo a isso, uma nova forma de rede social virtual foi crescendo também na cultura (se é que posso chamar assim) do tio-sam, que foi o incrível, o revolucionário, a salvação dos jornais, o Twitter!
O Twitter foi criado em 2006, com a intenção de encurtar estes textos gigantes e chatos dos blogs (como o meu) e forçar as pessoas à serem mais objetivas (com um limite de 140 caracteres) na hora de contarem o que estão fazendo,o que fizeram, o que prentendem fazer, ou qualquer outra conjugação do verbo fazer que elas desejassem utilizar. Sem contar a aparente praticidade para quem quisesse ler notícias sem ter que ler aqueles textos mesmos textos grandes e enfadonhos dos jornalistas, poetas, humoristas, escritores, produtores, ou qualquer outra pessoa aparentemente interessante ou famosa.
E muito se questionou se os microblogs iriam realmente atrair mais leitores para os jornais. Mas se enganaram. O que aconteceu foi que pouquíssimos souberam aproveitar com esse fim e, por três anos, os usuários brasileiros olharam com receio, talvez até desprezo, para essa figura que não parecia ter nada de atrativos. Mas não demorou muito até que os mesmos usuários (começando sempre pelos cutes, claro) aprendessem a usar, não como ferramenta útil de divulgação de algo interessante, algum evento bacana ou notícia para se compartilhar, mas como um quase relatório de atividades corriqueiras e desinteressantes, como dizer que vai assistir TV, comer, dormir, ir na casa do ciclano ou repetir uma frase engraçada ou que soou bonita para os contatos.
Sei que muito me demorei dando uma introdução da realidade que se tornou a rede social do jovem (tanto brasileiro como de qualquer outro país atingido pela globalização), mas precisei expor esse contexto para chamar a atenção dessa necessidade quase deseperadora dos usuários para procurarem algo menos pátrio e mais diferente possível, como forma de se auto-afirmar no seu círculo social, que, na maioria das vezes é bastante restrito.
Foi a partir dessa forma de redução de conteúdo (seja intelectual ou simplemente literário) que me veio o título deste post. As pessoas cada vez mais falam mais inutilidades, pensam menos nas consequências e procuram menos. A internet surgiu como uma revolução na tecnologia e até mesmo na troca de informações de forma mais igualitária. Mas quanto mais inovações e conteúdo a ser compartilhado surgem, menos as pessoas se interessam.
Não há dúvidas de que os dias da televisão estão contados (pelo menos para a juventude urbana atual), mas os dias de lavagem cerebral de massas e produção de estúpidos estão só começando.