terça-feira, 2 de março de 2010

Tuitização

Estava lendo o blog do Diogo hoje e o post dele me deu a ideia de escrever este post.
Antigamente, para ser aceito num grupo social como “normal”, precisava-se ter computador em casa e estar conectado ao mIRC. Para adolescentes, isso era totalmente aceitável e não importava se não se tinha nenhum amigo na vida ‘real’, pois todos os seus problemas pessoais se resolviam choramingando para algum usuário que se conhecesse há algum tempo.
O tempo passou e o MSN Messenger chegou. Quanta praticidade, ele trouxe! Agora, além de conhecer pessoas novas no IRC, podia-se adicionar o e-mail delas e conversar somente com os contatos da minha lista; evitando, assim, estupradores, pedófilos, ‘e-aí-gata-quer-tc’, entre outros que sempre apareciam pelos canais do servidor. Adeus mirc e olá msn!
Mas a vida de msn foi ficando chata, pois os contatos eram sempre os mesmos e, como na vida real, mesmas pessoas e assuntos lacônicos foram cansando e foi aí que surgiu o Orkut: uma rede em que não se precisava baixar qualquer programa, repleta de gente diferente e só entrava quem fosse convidado (coisa que não durou muito tempo, mas isso não vêm ao caso).
Sites como o orkut, myspace e facebook surgiram como uma revolução nas redes de relacionamento mundiais. Simples, práticos e leves, qualquer um que se cadastrasse poderia os acessar.
Mas, como todos os programas anteriores e tantos outros que simultaneamente foram surgindo, as pessoas mais ‘cutes’ (aqueles que vivem procurando coisas diferentes, para parecer diferente dos outros) foram se cansando e começaram a procurar outros sites que os norte-americanos gostassem, tencionando encontrar pessoas diferentes do seu já ‘manjado’ meio e também fugir dos estrupadores, pedófilos e ‘e-aí-gata-quer-tc’. Daí, o facebook surgiu: o orkut que os americanos - fugidos da invasão canarinha e idiana - adotaram como rede predileta de relacionamento.
Paralelo a isso, uma nova forma de rede social virtual foi crescendo também na cultura (se é que posso chamar assim) do tio-sam, que foi o incrível, o revolucionário, a salvação dos jornais, o Twitter!
O Twitter foi criado em 2006, com a intenção de encurtar estes textos gigantes e chatos dos blogs (como o meu) e forçar as pessoas à serem mais objetivas (com um limite de 140 caracteres) na hora de contarem o que estão fazendo,o que fizeram, o que prentendem fazer, ou qualquer outra conjugação do verbo fazer que elas desejassem utilizar. Sem contar a aparente praticidade para quem quisesse ler notícias sem ter que ler aqueles textos mesmos textos grandes e enfadonhos dos jornalistas, poetas, humoristas, escritores, produtores, ou qualquer outra pessoa aparentemente interessante ou famosa.
E muito se questionou se os microblogs iriam realmente atrair mais leitores para os jornais. Mas se enganaram. O que aconteceu foi que pouquíssimos souberam aproveitar com esse fim e, por três anos, os usuários brasileiros olharam com receio, talvez até desprezo, para essa figura que não parecia ter nada de atrativos. Mas não demorou muito até que os mesmos usuários (começando sempre pelos cutes, claro) aprendessem a usar, não como ferramenta útil de divulgação de algo interessante, algum evento bacana ou notícia para se compartilhar, mas como um quase relatório de atividades corriqueiras e desinteressantes, como dizer que vai assistir TV, comer, dormir, ir na casa do ciclano ou repetir uma frase engraçada ou que soou bonita para os contatos.
Sei que muito me demorei dando uma introdução da realidade que se tornou a rede social do jovem (tanto brasileiro como de qualquer outro país atingido pela globalização), mas precisei expor esse contexto para chamar a atenção dessa necessidade quase deseperadora dos usuários para procurarem algo menos pátrio e mais diferente possível, como forma de se auto-afirmar no seu círculo social, que, na maioria das vezes é bastante restrito.
Foi a partir dessa forma de redução de conteúdo (seja intelectual ou simplemente literário) que me veio o título deste post. As pessoas cada vez mais falam mais inutilidades, pensam menos nas consequências e procuram menos. A internet surgiu como uma revolução na tecnologia e até mesmo na troca de informações de forma mais igualitária. Mas quanto mais inovações e conteúdo a ser compartilhado surgem, menos as pessoas se interessam.
Não há dúvidas de que os dias da televisão estão contados (pelo menos para a juventude urbana atual), mas os dias de lavagem cerebral de massas e produção de estúpidos estão só começando.

4 comentários:

  1. Eu assisti uma entrevista com um professor de sociologia num programa da cultura e uma fraseque ele disse nesse programa se tornou meio que o meu "norte": "Antigamente não tínhamos internet, tampouco telefones acessíveis e conseguimos derrubar uma ditadura, hoje em dia os jovens têm um milhão de meios para se comunicar e são uns bananas!".

    O texto tá ótimo ^^

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  2. Acho que quis dizer "cult", não "cute", cute = fofo, cult = cult

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  3. Ao Anônimo acima:
    Usar Cult é se render ao americanismo, não é pátrio, assim como se refere o texto.

    Cute é a verdadeira mostra da brasilidade, não pode-se render ao americanismo, a imbecilização e criação de padrões com uso de léxico extrangeiro.

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