domingo, 8 de novembro de 2009

o resultado de um mistifório mental

O fato que gostaria de narrar não exige compreensão racional ou julgamento da verossimilhança, visto que nem mesmo eu, depois de tantos anos, ainda tenho certeza se realmente aconteceu.
Era uma fria manhã de inverno, na praia do Morro dos Conventos. O único movimento que se via passar era o vento sobre os pinhais e sobre a inquietude das aves que procuravam pequenos bichos enterrados na areia. Fazia 11 graus, mas a sensação térmica parecia chegar a muito menos.
Como todas as manhãs, gostava de observar o mar do alto do majestoso Morro dos Conventos. Agasalhei-me o suficiente para conseguir ainda mover os braços e fui ao local de costume. O vento batia violentamente em meu rosto, mas não me incomodava, pois sempre o mar trazia algum alento que compensasse.
Inicialmente, tudo parecia calmo e típico. Um barco pesqueiro se aproximava da barra, onde o rio encontra o mar. Com o vento pouco ajudando, ele estranhamente continuava seguindo a correnteza. Aproximei mais o ângulos da luneta e vi algo que agradeci depois a mim mesma por não ter ainda tomado café-da-manhã.
O barco seguia a corrente por não ter ninguém o dirigindo. O único tripulante (provavelmente o comandante) permanecia estirado sobre a superfície do barco. Uma de suas pernas havia sido arrancada (ou talvez comida) e a carne exposta era vorazmente devorada por um enxame de baregeiras, que também se deliciavam com a cabeça e as mãos do infeliz defunto.
Passado alguns instantes de paralisia, o pobre home de repente despertou e tentou em vão espantar as papa-defunto.
Corri para meu carro, peguei o celular e contatei o corpo de bombeiros, que demorou um pouco, em razão da distância, mas veio em seguida.
Ao se aproximarem do barco, uma grande onda separou os dois veículos, encharcando os oficiais. O homem parecia desidratado e debilitado demais para se levantar e tentar levar o barco até um porto seguro.
O cheiro de carne podre começava a atrair outros animais e já os urubus começavam a rodear a conturbada navegação à procura do banquete. O tempo começava a se fechar e os bombeiros se apressaram para se aproximar e salvar a pobre criatura que lá jazia invalidada.
Quando finalmente conseguiriam imobilizar o homem e o colocar na lancha, um raio caiu sobre o barco pesqueiro, abrindo fogo sobre ele e quase atingindo também o veículo salva-vidas. A chuva engrossara e os três se deslocaram para a barra, onde uma ambulância os aguardava.
Dias depois, lendo a sessão policial do jornal, descobri que o homem, após se recuperar e passar por uma hipnose para se lembrar do que havia ocorrido, contara que ele e mais dois pescadores neo-zelandeses haviam ido a passeio quando foram carregados por uma corrente forte que os levara para o meio do nada. Dias se passaram e seus suprimentos não foram suficientes. Os outros dois tripulantes se mataram, um tentando comer o outro para sobreviver e o terceiro havia perdido a perna tentando impedi-los. No fim, fora ele quem sobrevivera, comendo a carne dos outros.
Fechei o diário de notícias sem terminar de ler o relato e precisei tomar um calmante para parar de tremer. Não sabia se havia salvado um assassino ou fora o egoísmo humano que o havia salvado. Mas basta de especulações. Esse dia foi demais para minha cabeça.

2 comentários:

  1. Wow, acho que vou ficar um bom tempo sem visitar a praia depois disso =]

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  2. Que loucura! gostei do conto apesar de ser um tanto tragico hehe ..tbem quero uma luneta T_T..

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