quinta-feira, 29 de julho de 2010

Minha família foi viajar hoje e fiquei sozinha, cuidando da casa. Tudo bem, não tenho medo do escuro, o bicho Papão tem muitas criancinhas para atazanar, o homem do saco anda muito ocupado; enfim, consegui convencer minha mãe que sei me virar.
Tudo foi friamente calculado: café instantâneo, brioches suficientes para o tempo em que eles ficarem fora, bastante água e leite estocada e o pote de achocolatado, para casos de emergência.
Levantei, fui trabalhar e almocei fora. Voltando pra casa, como abrira um lindo sol lá fora, aproveitei para abrir todas as portas e janelas. Tocar piano com um ar fresco na casa e sem aquele barulho irritante da TV falando sozinha era realmente algo ímpar.
Voltar a trabalhar, lanchar, ser lograda pela dona da lanchonete - com sotaque do oestE catarinsensE –, enfim, nada de muito anormal.
A situação inusitada aconteceu depois das seis horas, quando voltei para casa e percebi que tinha esquecido a casa toda aberta, com um adendo um pouco desagradável.
Quando fui fechar a porta da área de serviço, percebi um vulto passar por mim e cair bem no degrau a minha frente. Folhas secas em pleno Agosto? carrascos escalando apartamentos? como assim?
Chegando mais perto, aquela coisinha de aproximadamente 10cm de comprimento, da cabeça ao rabo, parecia ser um carrasco e eu já começava a pensar em como enxotá-lo dali para longe de casa, sem que ele desse aqueles pulos grotescos.
Tentando chegar mais perto, percebi que o tal tinha focinho e um rabo. Senti meu coração subir na garganta na hora. O que parecia ser um inofensivo e gosmento carrasco, era, na verdade, um morceguinho peludo e estressado.
Um súbito pânico me veio, não pela feiura da perdida criatura (sim, ele é mais bonito quando visto na claridade e transmitido na televisão). Eu só pensava “Ele não é carnívoro, mas transmite raiva”.
Já havia entrado um maior dentro do apartamento, dez anos antes. Não me perguntem como, mas ele estava pendurado no teto da sala. Não em lâmpadas ou quadros, mas pendurado na própria parede, dormindo, envolto de suas negras asas.
Como estava sozinha e não tinha a menor ideia do que fazer com aquela coisa esparramada no degrau da área, liguei para minha vó e esta me recomendou apagar as luzes e deixar as portas abertas.
Já tinha feito isso, menos mal. Ao colocar o telefone no gancho, fui tentar olhar mais de perto, passado o medo do desconhecido.
Mas que inocência a minha. Ao me aproximar, o bichinho, com seu sonar infalível, mexeu uma das orelhas e se jogou como pode para mais longe de mim, sumindo no obscuro cômodo.
Minhas tartarugas, que também estavam lá e com essa agitação já tinham acordado, pressintiram o vulto e ficaram mais juntas, num canto de difícil acesso do aquário.
Fui para a vó com o coração na mão, pensando nas minhas cascudas, sozinhas com aquele estranho. Tudo bem que ele não ataca em solo, ainda mais estressado como estava. Mas sempre há o perigo.
Voltando uma hora depois, a primeira coisa que fiz foi acender a luz e tirar minhas pescoçudas de lá. O morcego continuava escondido entre as sombras, mas eu é que não ia perturbar a paz do bichinho.
Com as tartarugas a salvo, pude tomar banho e comer em paz. Na cozinha foi outra guerra: esconder as coisas da mesa das formigas que começavam a chegar. Aqui para as dondocas! ninguém chega perto dos meus brioches!
Como esquecera de comprar pão, o jeito foi me contentar em comer granola com leite aguado (que ainda os fabricantes têm a audácia de chamar de desnatado). Tudo bem, já foi pior.
Passado o susto, a fome e ansiedade em contar do meu colega peludo, preciso sair e aproveitar para organizar umas coisas no quarto. O silêncio está inacreditável na casa. Vou depois passar perto de onde o morcego está. Não tenho medo do escuro, mas só hoje vou acender as luzes por onde eu passar.

Um comentário:

  1. Ola, legal vc ter encontrado com o batman xD
    pq nao adotou o pequenino? eles gostam muito de bananas ^^ .. foxuxa da vóvó ^^

    bjo. adorei a postagem.

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